27.5.07

Poemas

CARTA PARA GARGALHADA DE BACO

Jairo Martins

Se lá soubessem eles...
Eva, costela de Adão,
Ele, rascunho dela.
A folha de parreira na janela do coração,
Uva esmagada, sangue do paraíso.
Num sorriso vermelho, Baco e garrafão.
Dois goles sem juízo bebem sofreguidão.
Vulcão, lava de amor,
Um cacho da vida espuma verbo no interior.
Emulsão, expulsão, emoção.
Todo segredo antes do vinho é cedo!
A casta não se tasca, a casca é tosca
O mosto é moço.
A uva é um cacho de venturas.
.......................................................................
TRADUÇÃO

"SONETO DO VINHO"
Jorge Luis Borges
Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjunção dos astros, em que dia secreto
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Nos invada sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite do júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a exaltação nova que este dia lhe canto
Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
Como se esta já fora cinza na memória
...................................................................
Ode ao Vinho
ARTUR GOMES
para Ademir Bacca
meu irmão de poesia e vibração
vinho é tudo quanto bebo
tinto branco branco tinto
especialmente o brasileiro
das cantinas das colônias
das uvas finas de Bento
bebida de zeus e de baco
deuses do olimpo e do sacro
líquido com que me alimento
em festa e consagração
qual uma doce eucaristia
em comunhão feito missa
a celebrar poesia
da uva a seiva o fermento
o sagrado tempo da cura
até os lábios no cálice
sorver a santa doçura
na língua e no pensamento
vinho eu bebo rezando
em juras de amor ao momento
de olhos sorrindo pros céus
benditas mãos sejam tantas
as que trabalham os vinhedos
e sabem do fruto o sagrado
colher o milagre entre os dedos