23.4.07


cubro-me com seda


nas (entre) linhas do verso

desnudando a alma.


Isnelda Weise




A história da tecelagem, pode-se dizer, remonta à história da humanidade. Pelo que se sabe, já há 12.000 anos o homem usava o princípio da mesma, entrelaçando pequenos galhos e ramos, para construir para si mesmo barreiras, escudos ou cestas, e isto tudo, inspirado numa pequenina teia de aranha.
Milênios depois, com materiais completamente diversos, o homem continua a tecer. E no rastro das vestes veio o verso.
Desta forma, sendo este um blog com proposta poética, exponho aqui, através de textos meus e de poetas amigos, alguns poemas sobre tecelagem e arte de tecer. Aos que lavram no tear, aos que tecem sonhos e labutam pela vida, tendo em vista a proximidade do dia primeiro de maio, Dia do Trabalho, nesta querida cidade de Blumenau (SC), no Brasil, bem como no mundo, uma singela homenagem, portanto.




Isnelda Weise

Terezinha Manczak - poeta

Na esquina o lume
Lavra poeta a palavra
O Ofício assume.


TEÇO

FIO A FIO
O
DESTINO
URDIDOS
SONHO

E

DOR
TEMPO
TRAMA

DESATINO

Terezinha Manczak

Ademir Bacca

No tear da emoção
Eu teço um manto de estrelas
Para aquecer a tua noite escura

Ademir Bacca

Haicais - Isnelda Weise



com arte, artesã
sobre mantas coloridas
acolchoa estrelas.



a mão operária
com tenros fios de algodão
tece o amanhã.



cai no chão, do avesso
a camisola de seda
anverso do prazer.



operário urde
tosca e resistente trama
frágil, fio por fio.



tic tac, burburinho
na lide do antigo tear
(entre) laços da vida.



tece o tecelão
com pura lã de carneiro
noites aquecidas



fio por fio, cosendo
nas asas do poema
veste vira verso.



Isnelda Weise


Haicais - Tchello d'Barros


luz do sol na teia
pequenina tecelã
tece fios de ouro


depois do poente
manto azul em Blumenau
tecido de noite



tic-tac dos teares
atrapalha o sono justo
dessas capivaras



flor-de-algodão
será parte de um vestido
estampa de flores


Tchello d'Barros

Lorreine Beatrice



Tecer

Tão sublime ato
simples passo ao infinito...
Revelar a essência
Tricotar a magia,
formando fio a fio
- poesia –

Tecer o avesso das idéias
contemplando
o que há de mais bonito:
o sentimento dos homens,
amor, sentido vivo.

Resta só declaração
do tear a trabalhar,
poema e emoção
o novo mundo renascerá.


Lorreine Beatrice

Alcione Guimarães


© ALCIONE GUIMARÃES



O mistério da trama
urde o poema.
O silêncio é o fio.
A palavra, a tecedura
mágica dos versos.

No silêncio me exponho às avessas,
meadas e meandros,
fio por fio.


A palavra o define e escava de mim
a verdade e a prece.
Transparece-me.

Com versos, costuro meus vestidos,
me desnudo.
Emendo meus retalhos,
me refaço

Teares e Artes - Tchello d'Barros

TEARES E ARTES



Essa máquina da fábrica
Fabrica em seu desatino
Esse homem que maquina
Usina de seu destino

Essa sina se costura
Na malha da vida diária
Estampa um lume na alma
Com tênue tinta dourada

Turnos e ritmos contínuos
E os homens a labutar
Urdem o verbo na trama
Em sua luta no tear


Esses homens por um fio
Nas tramas de algodão
Tudo tecem nada pedem
Porém sempre algo dão
Tchello d'Barros


Uma Cálida Tenda-Izabella Pavesi


Uma Cálida Tenda

Teço com linha e poesias
Um colorido espesso estofo
Pra que recostes, cansado
Em meu regaço descanses.

Teço uma ponte, com ráfia;
A fé com fios de ouro e lã,
Entrenós perpassados de luz,
E o amor com fios de carícias.

Teço passo a passo um tapete,
Um passadiço que te alcance,
Nas laboriosas noites insones.

Com mãos ágeis faço a renda,
Uma cálida tenda que te acolha
Por inteiro em brandos abraços.


%0 Izabella Pavesi

Terezinha Manczak - artesã


“Tia Júlia usava tiras de pano, lãs de ovelha que ela mesma fiava e aquilo para mim parecia apenas o seu trabalho. Nasci numa família onde quase tudo era feito a mão.”

Mais tarde, o reencontro com a tecelagem:

“Moro em Blumenau desde 1980. Freqüentei cursos de tapeçaria, bordado, desenho, cubismo, óleo sobre tela e vitrinismo. Fiz muito tricô à máquina, costurei em diversos ateliês mas nada me satisfazia profissionalmente. Nos anos noventa, visitei algumas exposições de tecelagem num shopping da cidade e a paixão revelou - se por inteiro. Comecei a procurar quem ensinasse e demorei a encontra, até que a Fundação Cultural de Blumenau passou a oferecer uma oficina, da qual fui uma das primeiras alunas. Concluí que era isso que eu queria fazer. Por uns três anos, entreguei-me de corpo e alma ao aprendizado. Comprei um tear e comecei a tecer em casa, pesquisando, experimentando. Sempre que viajava, visitava lugares onde se praticavam técnicas de tecelagem. Acumulei amostras, recortes e materiais. Também na FCB, fiz um curso de Tapeçaria em Auto-Liço, trazendo mais conhecimento, contribuindo para a evolução do conteúdo programático da minha oficina.”

Terezinha Manczak



15.4.07

ou tô no

outono

ou não tô


Tchello d'Barros

(EN) cantos do Outono

O outono sorri!


Não existe estação triste. Outono não é triste. Outono é sossego de calor, trégua para as árvores, plantinhas e animais. O céu de outono é limpo, é de cristal azul. Nuvem gosta de olhar o outono de cima, bem do alto. Só desce de vez em quando para acariciar a terra e refrescar o ar. Outono é estação simples de tons pastéis. É uma forma que Deus encontrou de trazer para as nossas mãos a oportunidade de colorir o mundo.
Um outono de paz, prosperidade e harmonia pra você.
rogério rothje

Soneto


SONETO DE OUTONO

Tempo de colheita e mudança de cor
A bordar o horizonte de amarelo-dourado
Na queda das folhas aos pés do alambrado
A calmaria da planta na ausência da flor.

Doces e geléias a guarnecer a mesa
O aroma do licor com sabor agridoce
No tilintar das taças é como se fosse
Estação de compotas, de maçã e certeza.

Tempo de vindima e cheiros antigos
Novas rugas sulcando as faces e assim
Sufocar a saudade de velhos amigos.

Do descanso no campo ao prazer do abandono
Numa cesta de frutas maduras, enfim
O fluir sumarento de uma tarde de outono.


Isnelda Weise.


Haicais (Isnelda)







Em tardes de outono
sobre o córrego um tapete--
só folhas caídas.






Entre tons dourados
outono colore o campo-
com espigas maduras.







Mandioca e ração:
celeiro cheio estoca
(EN) cantos do outono.



Isnelda Weise




CANÇÃO DE OUTONO

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...
Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...
Partir, ó alma, que dizes?
Colhe as horas, em suma...
mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte alguma!

Mario Quintana